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A MAÇONARIA BRASILEIRA PERANTE O
FASCISMO E O INTEGRALISMO
--- José Castellani ---
Doutrina de um partido político
--- Ação Integralista Brasileira --- criado depois do
golpe de 1930, para combater o comunismo e todos os sistemas, ou
correntes, considerados capazes de ajudar a infiltração
comunista, no Brasil, o integralismo tinha, por base, o lema
"Deus, Pátria e Família", ou seja, a religião católica
(exclusivamente), a organização corporativista do Estado e a
organização patriarcal da sociedade.
Fundado pelo escritor Plínio
Salgado, o partido cresceu, a partir de 1932, graças ao apoio de
considerável parcela do clero e de um grande número de
intelectuais, além do fato de ter sido favorecido por uma
conjuntura política que privilegiava os movimentos e as idéias
baseadas no fascismo italiano e no nacional-socialismo alemão,
liderado por Adolf Hitler.
O fascismo, no âmbito maçônico
brasileiro, já vinha sendo combatido há muito tempo, em função
da situação aflitiva das Lojas italianas, sob o regime liderado
por Benito Mussolini. Em janeiro de 1925, as Oficinas brasileiras
recebiam uma lista de subscrição em favor das Lojas italianas
"victimas
dos fascistas",
acompanhada de uma carta, redigida em italiano. A Loja Piratininga,
a mais tradicional de São Paulo, em fevereiro do mesmo ano,
insurgia-se contra a perseguição movida por Mussolini às Lojas
italianas e enviava, ao Grande Oriente do Brasil, uma prancha,
solicitando que a Maçonaria brasileira protestasse contra essa
perseguição e contra as idéias do fascismo.
O integralismo, um fascismo à
brasileira, teve, na época, o apoio do governo ditatorial de Getúlio
Vargas --- que empalmara o poder, quando do golpe de 1930 --- que
o utilizou e colocou em prática muitas de suas idéias, não
permitindo, porém, que os integralistas tivessem acesso ao poder.
Todavia, com o crescimento, os seus adeptos, que usavam, em suas
manifestações, camisas verdes e gestos nazi-fascistas, foram se
tornando cada vez mais audaciosos, proporcionando tumultos de rua,
em diversas capitais brasileiras, com maior ênfase para a Capital
Federal da época --- Rio de Janeiro --- e para São Paulo, que
era a base política de Plínio Salgado.
Em São Paulo, em 1934, a praça
da Sé, marco zero da cidade, ficaria interditada, das 22,30 hs do
dia 7 de outubro até ao meio-dia do dia 8, porque, ali, na tarde
do dia 7, um domingo, durante cerimônia de entrega da bandeira de
benção à corporação, os camisas verdes provocariam grandes
distúrbios, durante os quais foram disparados tiros dos altos de
diversos prédios. O prédio próprio da Loja Piratininga,
ali localizado, na época, embora nada sofresse e embora não
houvesse ninguém ali postado, que pudesse fazer os disparos,
acabou sendo atingido pela interdição.
Diante disso tudo, no mês
seguinte, a 6 de novembro de 1934, o Grande Oriente do Brasil,
expedia, a todas as Lojas de sua jurisdição, assinada pelo
Grande Secretário Geral, uma circular, onde informava que "o
Conselho Geral da Ordem, em resolução referente a consultas de
diversas Officinas, em relação a respectiva attitude em face do
partido integralista, approvou o parecer da Comissão de Justiça
seguinte: o integralismo e a maçonaria são instituições que se
reppelem ; não deve a maçonaria admittir integralistas em seu
seio, o que motiva em considerações que expõe ; os maçons
integralistas renegam os principios liberaes maçonicos, prova já
dada pelo respectivo procedimento na Italia, em Portugal e na
Allemanha ; faz notar que ás Lojas compete deliberar sobre a
conveniencia de conservar ou eliminar dos seus quadros os maçons
que agem contra os principios maçonicos"
. Portugal está aí incluído porque, a partir da Constituição
de 1933, o país passava a ser uma república unitária e
corporativa, sob a égide de Antônio de Oliveira Salazar, que, em
1928, fora convidado, pelo presidente Oscar Carmona, para ser
ministro das Finanças.
Não se tem notícia de que
tivesse havido exclusão de obreiros dos quadros das Lojas, pois
algumas alegaram que não havia integralistas em seu seio,
enquanto outras afirmavam que os que existiam em seus quadros
haviam deixado o partido, por fidelidade à Maçonaria. Na
realidade, porém, muitos dos maçons "camisas verdes",
fanatizados pelas idéias integralistas, haviam deixado,
espontaneamente, as Lojas e a instituição, passando, inclusive,
a combatê-las.
Quando ocorreu o golpe de Estado
de 10 de novembro de 1937, com a implantação da ditadura férrea
do Estado Novo, a Ação Integralista, como todos os demais
partidos, foi dissolvida. Todavia, em maio de 1938, os
integralistas tentaram um contragolpe, malogrado, com assalto ao
Palácio Guanabara, onde residia Getúlio Vargas. Quando da queda
do ditador, em 1945, e a reorganização dos partidos, o
integralismo voltou sob o nome de Partido de Representação
Popular, mas já sem nenhuma expressão e nem repercussão, vindo
a desaparecer, posteriormente.
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