À CASA DE RUI
BARBOSA
--- José
Castellani --
RUI BARBOSA foi
iniciado maçom na Loja AMÉRICA, a 1º. de julho de 1869. A
Loja era ainda incipiente, pois fora fundada a 9/11/1868 e seria
regularizada apenas a 7/7/1869. Mesmo assim, possuía, em seu
quadro, homens que já eram, ou seriam, notáveis na História
do Brasil imperial e republicano, como: Joaquim Nabuco, que fora
iniciado a 1º. de dezembro de 1868, Américo de Campos, Américo
Brasiliense, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (o II), Ubaldino
do Amaral, Luís Gama e outros. A América era, ao lado
das Lojas Piratininga (fundada a 28/8/1850) e Amizade
(fundada a 13/5/1832), o grande celeiro de homens ilustres,
geralmente captados na Academia de Direito.
Rui, no quadro da Loja, referente a 1870,
tinha o nº 101 e constava como tendo 22 anos, sendo solteiro e
estudante. Na realidade, como esse quadro era feito no início
do ano, Rui, nascido a 5 de novembro de 1849, tinha apenas 20
anos, o que leva a crer que tenha sido alterada a sua idade,
para mais, para permitir a sua iniciação com idade menor do
que a regulamentar. Isso era muito comum, na época, e também
ocorreu, por exemplo, com Nabuco e com Quintino Bocaiúva
(iniciado na Loja Piratininga).
Antônio Carlos --- sobrinho de José Bonifácio
de Andrada e Silva --- Venerável Mestre (Presidente) da Loja América,
era lente da Faculdade de Direito e Rui, seu aluno. Apesar
disso, este, assumindo o cargo de Orador da Loja, entrava,
muitas vezes, em choque com a opinião do mestre, em Loja,
principalmente em torno do movimento pela abolição da
escravatura no Brasil, expondo suas idéias e fundamentando a
sua discordância, com absoluto destemor, apesar de se expor a
represálias no âmbito da Faculdade. Felizmente, Antônio
Carlos era um homem de grande equilíbrio e descortino e
entendeu as razões do seu aluno, jamais levando assuntos de
Loja para outros locais.
Rui pouco permaneceu na América e na
maçonaria, pois, bacharelado em 1870, voltou à Bahia. Mas teve
tempo de apresentar, em Loja, o seu famoso projeto de 4 de abril
de 1870, onde apresenta medidas abolicionistas --- ou, melhor
dizendo, emancipacionistas ---- para a Loja e para todo o seu círculo
maçônico. O projeto, ao qual, curiosamente, falta o art. 4º.,
encontra-se, hoje, na Casa de Rui Barbosa. O círculo maçônico
referido era resultado de uma dissidência do Grande Oriente do
Brasil, liderada por Joaquim Saldanha Marinho. Conhecido como
Grande Oriente do Brasil da rua dos Beneditinos --- para
diferenciá-lo do original, que funcionava na rua do Lavradio,
97 --- esse círculo maçônico durou até 1883, quando foi
incorporado ao Grande Oriente do Brasil, passando, a Loja América,
a ter o número 189. É por isso que, na época, enviado o
projeto ao Grande Oriente dos Beneditinos, ele não foi levado
avante, já que, preocupado em manter a sua Obediência maçônica
dissidente, Saldanha Marinho não lhe deu destaque. O que foi
lamentável.
Embora nunca mais tenha voltado à atividade
maçônica, Rui sempre se referia à maçonaria com carinho e
admiração, mesmo admitindo que se tornou maçom por acaso,
porque muitos dos seus colegas eram maçons.
José
Castellani
Gr.: Secr.: Ger.: de Educação e Cultura do Grande Oriente do
Brasil